Muita emoção e lembranças tomaram conta do plenário da Câmara na manhã desta quarta-feira, 21. A Comissão da Verdade de Minas Gerais (Covemg) realizou a audiência pública “Ditadura Militar na Zona da Mata: Memórias da Repressão, Vozes da Resistência", que teve o intuito de propagar as vivências de pessoas da região que sofreram algum tipo de opressão neste período.
A sessão foi presidida pelo coordenador geral da Covemg, Robson Sávio Souza, que contou com a participação dos integrantes da mesma, do secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, ex-deputado estadual e secretário adjunto da pasta, Biel Rocha e o subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, José Francisco da Silva, além de pessoas que prestaram depoimentos a fim de conscientizar o público sobre as arbitrariedades vividas naquele tempo.
Juiz de Fora foi o centro articulador do golpe de 64, quando o então general Olympio Mourão Filho marchou com sua tropa rumo ao Rio de Janeiro para tomar o poder dos civis. “Nossa cidade paga um preço histórico por questões alheias a vontade da sua população, foi daqui que a ditadura montou uma das mais draconianas auditorias militares”, disse emocionado o ex-vereador da Casa, Biel Rochal, que enfatizou que deve-se fazer ouvir e ecoar a voz da repressão e da resistência.
Logo no início do regime, quatro vereadores tiveram seus mandatos cassados e foram presos a pedido do general Mourão. Francisco Carlos Pinheiro, filho do ex-vereador, Francisco Afonso Pinheiro, relatou que o pai perdeu seu mandato por questões políticas, uma vez que este apoiava causas comunitárias e o sindicalismo.
Apesar de ter tido a anistia, o Brasil é o único país que anistiou os dois lados, perdoou-se os perseguidos e também os criminosos, igualando o algoz à vítima. Este paradigma do esquecimento foi passado para trás a partir de 1988, com a promulgação da nova Constituição que deu abertura para o paradigma da verdade. Em 1995 foi instituída a comissão de mortos e desaparecidos na ditadura, e os criminosos foram submetidos à Justiça e o Estado assumiu a responsabilidade. Em 2014 foram promulgadas, em diversas cidades do país, as comissões da Verdade com o objetivo de descobrir e esclarecer as opressões do passado.
Nilmário Miranda destacou que a Comissão da Verdade é do Estado e não do Governo, por isso sua obrigação e dever é dar respaldo a sua atuação. “Ninguém constrói nada na base do esquecimento. A memória é essencial, um país é feito de sua memória”. Além de destacar a importância dos trabalhos das comissões da Verdade de todo o país, Nilmário informou que o antigo Dops de Belo Horizonte vai virar um memorial sobre a ditadura para mostrar às futuras gerações um tempo que não pode mais voltar.
Dentre as autoridades e integrantes da Covemg, alguns ex-presos políticos também fizeram, emocionados, seus relatos. Na terça-feira, 20, eles visitaram as instalações do presídio de Linhares e o quartel general, localidades que serviram como base de repressão e tortura na época.
“Aqui no Brasil vivemos uns pequenos intervalos de ditadura, e pouco tempo em uma democracia. É essencial expor todo tipo de ditadura e opressão vividos, para que isso não ocorra novamente”, enfatizou Ricardo Cintra, um dos depoentes.
De acordo com Robson, nos quatro continentes, cerca de 40 comissões da verdade foram importantes instrumentos para as vítimas dos regimes autoritários contarem a sua própria história, sua verdade em contraponto com a verdade oficial, uma verdade oficial imposta em uma época de arbítrio e muitas vezes mantida e inalterada nas democracias que sucederam a esses regimes.
Até agora, em Minas Gerais, foram realizadas quatro audiências públicas, a fim de reunir e coletar depoimentos e expor histórias de e sobre pessoas que sofreram algum tipo de tortura no período militar.
Informações: 3313-4734 / 4941 – Assessoria de Imprensa