Publicada em: 26/11/2021 - 1195 visualizações

Câmara Municipal celebra a cultura negra com solenidade 

Câmara Municipal celebra a cultura negra com solenidade  (26/11/2021 00:00:00)
  • Para exaltar as influências africanas em diversas áreas da sociedade e reafirmar a importância da resistência do negro, a Câmara Municipal de Juiz de Fora (CMJF) reconheceu o mérito de negros e negras de Juiz de Fora ao realizar na noite desta sexta-feira, 26, a outorga da medalha Nelson...
 

Medalha Nelson Silva encerra mês da consciência negra nesta sexta-feira ao homenagear negros e negras que deixaram um legado para a cultura negra; a honraria é um reconhecimento ao importante trabalho de difusão e produção das manifestações da raça negra

Para exaltar as influências africanas em diversas áreas da sociedade e reafirmar a importância da resistência do negro, a Câmara Municipal de Juiz de Fora (CMJF) reconheceu o mérito de negros e negras de Juiz de Fora ao realizar na noite desta sexta-feira, 26, a outorga da medalha Nelson Silva, no Palácio Barbosa Lima. 

Ao todo foram agraciados com a honraria 9 pessoas e o Grupo Nzinga, pois foram notáveis em difundir e produzir manifestações artísticas, científicas e sociais da raça negra. A Casa Legislativa celebra nesta noite o legado da cultura negra nesta sessão solene que encerra as comemorações do mês da Consciência Negra. 

O presidente da Câmara Municipal, Juraci Scheffer (PT), reafirmou o compromisso de que o Palacio Barbosa Lima, sede da Casa Legislativa, será transformado em um espaço de memória e de cultura, e o povo negro estara representado. “Devemos valorizar a história e a cultura negra, desse povo que construiu Juiz de Fora. Também teremos um trabalho constante por mais políticas afirmativas, sempre na luta para diminuir a desigualdade e o racismo estrutural presente em toda sociedade”, alertou Juraci.

A Comissão Especial de Igualdade Racial esteve representada por suas integrantes, as vereadoras Cida Oliveira (PT), Laiz Perrut (PT) e Tallia Sobral (PSOL). Cida destacou que neste momento de grande ataque aos direitos em todo o país, é importante valorizarmos o povo negro e tudo que eles representam para nossa cultura. Laiz ponderou que além das homenagens, a Câmara está disposta a garantir mais direitos e, por meio da Comissão, elaborar também projetos voltados à causa.

Representando os agraciados da noite, Flávia Nascimento do Grupo Nzinga,destacou a importância de eventos como a Medalha Nelson Silva. “É uma honra receber essa homenagem e também é uma grande responsabilidade dar a voz às mulheres negras e contadoras de histórias desse grupo. Por isso, reafirmamos, estamos avançando na luta e não vamos recuar”. 

Participaram ainda da celebração no Plenário os vereadores Pardal (PSL), Vagner Oliveira (PSB) e Dr Antônio Aguiar (DEM), este último lembrou que a medalha é uma das mais antigas, mostrando que a Câmara sempre demonstrou preocupação em valorizar a cultura negra. 

Os agraciados receberam a Medalha Nelson Silva, instituída pela Resolução nº 1.120/1999, criada em parceria com o Batuque Afro-Brasileiro, reconhecido como Bem Cultural Imaterial de Juiz de Fora. A  sessão solene da medalha integra a campanha de 2021 da Casa cujo lema é “O racismo é real. A luta contra ele também precisa ser”. 

O cantor e compositor Nelson Silva nasceu no dia 22 de janeiro de 1928 em Juiz de Fora. Foi contador, tipógrafo e um dos maiores compositores da história do município e do país. Atento à situação do negro no Brasil, retratou a dura realidade enfrentada pela raça e fundou o Batuque Afro-Brasileiro, em 1964, deixando aos integrantes, após seu falecimento em 1969, uma herança de luta por uma sociedade mais democrática e com direitos iguais. 

Homenageados da Medalha Nelson Silva 2021

Grupo Nzinga

O Nzinga é formado por onze mulheres negras, contadoras de histórias e pesquisadoras de Nzinga Mbandi, guerreira e estadista angolana, símbolo da resistência ao colonialismo português. A proposta do grupo é entreter, educar, incluir e sensibilizar por meio da contação de histórias, mitos, contos e poesias. Realizando ações desde 2020, elas têm o compromisso de contribuir com a educação antirracista, com o objetivo de viabilizar a implantação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que incluem a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” no currículo oficial da Rede de Ensino, apresentando propostas pedagógicas ligadas à promoção da igualdade racial e de gênero nas escolas. 

Dagna Gonçalves Costa

As conquistas pela igualdade racial nos últimos anos contaram com a luta e disposição de Dagna Costa - inclusive, a própria Medalha Nelson Silva. Com sua vontade de mudança, Dagna vem procurando mudar a realidade ao seu redor desde que saiu de Tocantins (MG) e veio para Juiz de Fora, em 1986. Trabalhou como faxineira, atendente, secretária e mecânica, ofício que aprendeu quase sozinha. Ingressou no Sindicato dos Metalúrgicos e no Partido dos Trabalhadores (PT), trazendo à luta partidária e sindical a temática racial. Em 2005, foi eleita presidenta do Conselho Municipal para a Valorização da População Negra, órgão antecessor do Compir, buscando sempre a implementação de políticas públicas. Dentre tantas nobres ocupações, Dagna também é mãe e avó.

Elza Corrêa da Silva

Foi passando por um ensaio do Batuque Nelson Silva no Espaço Bernardo Mascarenhas, que Elza foi convidada para assistir a uma apresentação, e não parou mais. Atendendo a um convite do barulho da batucada, da sua própria ancestralidade. Participa do projeto dançando e gosta de reforçar a importância do resgate da cultura africana pelo Batuque, e de viajar se apresentando. Mãe de cinco filhos: Wander Lúcio, Luciene, Andreia, Valéria e Fernanda, avó de seis e com dois bisnetos, nasceu e morou toda sua vida no Bairro Retiro. Se preocupa com a continuidade do batuque, levando sempre que pode a sobrinha e o neto para participar das reuniões. 

Francisco José de Carvalho

A forte ligação com a cultura é uma marca na vida de Francisco José de Carvalho. Com 62 anos, ele atua ativamente na valorização da negritude. Mestre de capoeira, candomblecista, escritor e militante, Francisco foi preso três vezes durante a Ditadura Militar: duas pelo DOI-CODI por vender e distribuir, no Rio de Janeiro, jornais de oposição; e uma vez pelo Exército por ter escrito, no muro do quartel em que servia como militar, uma poesia contra guerras e assassinatos. Ao longo de sua trajetória participou da fundação de vários grupos do movimento negro, como o primeiro bloco afro no Rio de Janeiro na década de 1980; o grupo Palmares, em Friburgo; e o bloco Afoxé Ilê Okan Odara Oyá, em Juiz de Fora. Francisco tem  três livretos publicados, é pai de três filhos e avô de cinco netos.

Karoline Vieira (MC Xuxú)

Mc Xuxú é o nome artístico da cantora e compositora mineira Karolina Vieira, nascida no Bairro Santa Cândida. Em 2021, ela completa 12 anos de carreira musical, sempre nos gêneros do rap e do funk. Conhecida no cenário nacional, a MC mantém raízes fortes em sua cidade natal, Juiz de Fora, tendo inclusive recebido o título de cidadã benemérita pela militância em defesa da população LGBTQIA+. Por ser uma das mulheres transexuais pioneiras no estilo do funk, sua música inspira e abre caminhos para outras mulheres, pessoas negras, travestis e periféricas.

Marcos Tadeu Batista Soares

Marcos Tadeu tem a vida dedicada à causa social. De família pobre, aos 12 anos teve o primeiro trabalho como guarda mirim, serviu o Exército e foi montador de jornal na Tribuna de Minas. Conseguiu alcançar a independência financeira pela educação. Formado em Administração com pós graduação em Gestão Hospitalar, ele trabalha ativamente pela igualdade social e desenvolveu diversos projetos sociais voltados para crianças e jovens em situação de risco social, como o Mocidade Mirim do Amanhã, em que incluiu as crianças na produção e profissionalização do carnaval. É por meio da cultura que Marcos participa ativamente do movimento negro, com especial ênfase ao carnaval, uma de suas grandes paixões. Ele é Presidente de Honra do G.R.A.C. Mocidade Alegre e ex-presidente da Liga das Escolas de Samba de Juiz de Fora. Casado há 31 anos, Marcos Tadeu tem duas filhas e um neto. 

Sandra Maria de Jesus (in memoriam)

Sandra Maria de Jesus nasceu em 05 de abril de 1965, em Juiz de Fora. Moradora do bairro Milho Branco, buscava melhorias para o bom convívio de todos, representando a população da região como presidente do bairro. Mulher negra e mãe de quatro filhos - Andrezza, Ademir, Adair e Alan - sempre teve um olhar intenso para os direitos básicos e não cansava de buscar o mesmo para aqueles que precisavam. Seus princípios a fizeram cruzar com os caminhos do Movimento Negro Unificado (MNU), pelo qual foi ativista e combateu intensamente o racismo, e com o evento Feijão de Ogun, pautando a desigualdade racial e a perpetuação da cultura negra. Sandra faleceu em 2020, aos 55 anos, deixando um legado de muita generosidade e luta.  

Sebastião Carlos Grigório 

Funcionário da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) desde 1985, Sebastião Carlos Grigório, mais conhecido como Greg, tem 63 anos e já fez um pouco de tudo na vida - de engraxate a auxiliar de obras. Na Funalfa entrou como vigia, foi auxiliar de escritório no setor de Contabilidade e hoje trabalha no de Recursos Humanos. Ao longo da sua carreira, fez diversos cursos na área de legislação previdenciária e tem formação em contabilidade. A sua forma acolhedora de trabalhar impacta diretamente no bom funcionamento da Fundação, onde hoje é responsável por todos os seguranças contratados das unidades.

Silvânia Cristina de Andrade (Sil Andrade)

Artista, cantora e compositora, Silvânia Andrade, de 60 anos, é do bairro Monte Castelo de Juiz de Fora, mas já morou em Belém e no Distrito Federal. As suas composições estão disponíveis na plataforma Spotify no EP “TREMinhão, Mineirices & Poesia”. Outro EP “Mamão e Poesia” será lançado em dezembro de 2021.  Atualmente é Conselheira Municipal de Cultura (Concult - Música) e integra o coletivo MARE JF - Movimento Artístico Evolucionário. Sempre buscou dar visibilidade aos artistas negros e periféricos e incentivou projetos culturais no coração da cidade, como o Recuo do Sol, que agregou por cinco anos músicos locais com mais de 150 apresentações gratuitas de bossa e samba, antes da pandemia, na Rua Halfeld, aos sábados.

Willian José da Cruz

Nascido em Barbacena, em uma família de vida simples, conseguiu se graduar e fazer doutorado em matemática, graças ao incentivo de seus pais, aposentados. Atualmente é coordenador do curso de matemática da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), no qual atua como professor de matemática e do mestrado profissional em educação matemática. Com 46 anos, é casado há 20, pai de dois filhos, ele sempre dedicou sua vida a fortalecer as ações afirmativas e desenvolver as práticas antirracistas na UFJF, desenvolvendo projetos de pesquisa e extensão nesse sentido.  Willian participa ainda da banca para verificação de autodeclarações raciais na UFJF e é representante da Universidade no Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial (Compir). 

Mais informações: 3313-4734 - Assessoria de Imprensa 

 


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