Brasão de Juiz de Fora CÂMARA MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA

Proposição: PLEI - Projeto de Lei
Número: 201/2006  -  Processo: 5394-00 2006

COMISSÃO ESPECIAL - ANTÔNIO JORGE-PARECER:

Comissão Especial - Antônio Jorge

Parecer:

É rara a propositura de título de benemerência escudado na contribuição ideológica do homenageado. O nobre vereador Cheker, ao apresentar Projeto de Lei agraciando o professor Dr. Gilberto Felisberto Vasconcellos com a mais alta distinção conferida por nossa Casa, nos enseja uma oportunidade rara para o salutar contraponto de idéias, sem o que a democracia inexiste. Sem prejuízo de nosso voto favorável ao projeto em tela, é o que passaremos a fazer. Tanto mais na medida em que o homenageado tem se notabilizado como um severo critico da contribuição que a Social Democracia tem dado à melhoria das condições de vida dos brasileiros.

Gilberto Vasconcellos é um defensor ardoroso da herança getulista na política brasileira. Em um de seus livros, "A Jangada do Sul", utiliza a embarcação típica dos pescadores nordestinos numa de suas incontáveis metáforas. Tal qual a jangada, construída a partir de três troncos e uma vela, o sul teria dado ao país seus três pilares: Getúlio, Jango e Brizola. Trata-se de uma óbvia defesa do modelo nacional- desenvolvimentista, implantado a partir de Vargas e levado ao extremo pelos governos militares, que se baseia em forte presença do Estado na economia, determinando setores e pessoas beneficiarias dessa intervenção. O fato é que o modelo nacional desenvolvimentista é incompatível com a democracia, como ficou demonstrado ao longo da história. De 1930 até a eleição de Dutra em 46 a mão forte de Getúlio se encarregou de fazer o modelo funcionar. A partir de 46 ficava evidente a incopatibilidade entre a forte presença do Estado na economia em ambiente de eleições livres e diretas. O que ocorre em 65 é meramente a retomada centralização política que levará o modelo ao seu auge e esgotamento. Não por acaso, ,. Gláuber Rocha, um dos ícones nos quais o Dr. Gilberto busca inspiração, chegou a dizer ~Q que o dia em que houvesse a revolução proletária, não seria preciso estatizar mais nada. O abraço de Gláuber a Geisel em terras portuguesas selou de certa fprma esta aliança, revivida agora pelos afagos de Lula a Delfim e pela reabilitação do regime militar feita por um Presidente da República que, curiosamente, recebe pensão do contribuinte por ter sido perseguido pela ditadura que ele hoje absolve.

O Dr. Gilberto é especialmente critico com relação ao ex- presidente FHC. Autor de uma tese polêmica, segundo a qual com o presidente-sociólogo o tropicalismo teria chegado ao poder, nosso homenageado também não poupa o maior êxito na história recente da administração pública brasileira: o Plano Real. Em seu livro “As Ruínas do Pós-Real” investe com seu estilo irônico e metafórico contra o plano, que ao dar ao país estabilização monetária, dobrou o poder aquisitivo do salário mínimo e tirou milhões de brasileiros da linha da miséria.

Mesmo que nós da social democracia brasileira sejamos alvos freqüentes da metralhadora giratória de nosso homenageado, saudamos a iniciativa do nobre Vereador Flávio Cheker, que, com toda certeza, constitui-se em importante contribuição para o debate democrático. E o que tentamos fazer aqui nessas páginas. Ao professor Dr. Gilberto Felisberto Vasconcellos nossos cumprimentos e votos de que ainda possamos por muito tempo manter um saudável diálogo em tomo da criação de um país tolerante e acolhedor das múltiplas contribuições que moldam e remoldam permanentemente o caráter nacional­brasileiro.

Palácio Barbosa Lima, 10 de Janeiro de 2007.



[CMJF - Câmara Municipal de Juiz de Fora] [iS@L]